sexta-feira, 24 de abril de 2009

A LEITURA TRANSFORMA O HOMEM

Gostaríamos que nossos alunos, sem ânimo para o exercício da leitura, lessem a história abaixo e passassem a refletir sobre sua postura em sala de aula. Que a leitura transforma o homem é uma verdade absoluta, o que falta é encontrar o desejo de transformação.


VALE MAIS QUE UM TROCADO
Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos motoristas parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi
Rodrigo Ratier (rodrigo.ratier@ abril.com. br)

CAMINHO LIVRE
A cada livro oferecido em vez de esmola, um leitor descoberto.

"Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?" Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores ambulantes, pessoas de todas as idades que fazem dos congestionamentos da cidade de São Paulo o cenário de seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma combinação com os colegas de NOVA ESCOLA: em vez de dinheiro, eu ofereceria um livro a quem me abordasse - e conferiria as reações.
Para começar, acomodei 45 obras variadas - do clássico Auto da Barca do Inferno, escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina Albertina, da contemporânea Christine Davenier - em uma caixa de papelão no banco do carona de meu Palio preto. Tudo pronto, hora de rodar. Em 13 oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais.
Nas ruas, tem de tudo. Diferentemente do que se pode pensar, a maioria dessas pessoas tem, sim, alguma formação escolar. Uma pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, realizada só com moradores de rua e divulgada em 2008, revelou que apenas 15% nunca estudaram. Como 74% afirmam ter sido alfabetizados, não é exagero dizer que as vias públicas são um terreno fértil para a leitura. Notei até certa familiaridade com o tema. No primeiro dia, num cruzamento do Itaim, um bairro nobre, encontrei Vitor*, 20 anos, vendedor de balas. Assim que comecei a falar, ele projetou a cabeça para dentro do veículo e examinou o acervo:
- Tem aí algum do Sidney Sheldon? Era o que eu mais curtia quando estava na cadeia. Foi lá que aprendi a ler.
Na ausência do célebre novelista americano, o critério de seleção se tornou mais simples. Vitor pegou o exemplar mais grosso da caixa e aproveitou para escolher outro - "Esse do castelo, que deve ser de mistério" - para presentear a mulher que o esperava na calçada.
Aos poucos, fui percebendo que o público mais crítico era formado por jovens, como Micaela*, 15 anos. Ela é parte do contingente de 2 mil ambulantes que batem ponto nos semáforos da cidade, de acordo com números da prefeitura de São Paulo. Num domingo, enfrentava com paçocas a 1 real uma concorrência que apinhava todos os cruzamentos da avenida Tiradentes, no centro. Fiz a pergunta de sempre. E ela respondeu:
- Hum, depende do livro. Tem algum de literatura?.provocou, antes de se decidir por Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
As crianças faziam festa (um dado vergonhoso: segundo a Prefeitura, ainda existem 1,8 mil delas nas ruas de São Paulo). Por estarem sempre acompanhadas, minha coleção diminuía a cada um desses encontros do acaso. Érico*, 9 anos, chegou com ar desconfiado pelo lado do passageiro:
- Sabe ler?, perguntei.
- Não..., disse ele, enquanto olhava a caixa. Mas, já prevendo o que poderia ganhar, reformulou a resposta:
- Sim. Sei, sim.
- Em que ano você está?
- Na 4ª B. Tio, você pode dar um para mim e outros para meus amigos?, indagou, apontando para um menino e uma menina, que já se aproximavam.
Mas o problema, como canta Paulinho da Viola, é que o sinal ia abrir. O motorista do carro da frente, indiferente à corrida desenfreada do trio, arrancou pela avenida Brasil, levando embora a mercadoria pendurada no retrovisor.
Se no momento das entregas que eu realizava se misturavam humor, drama, aventura e certo suspense, observar a reação das pessoas depois de presenteadas era como reler um livro que fica mais saboroso a cada leitura. Esquina após esquina, o enredo se repetia: enquanto eu esperava o sinal abrir, adultos e crianças, sentados no meio-fio, folheavam páginas. Pareciam se esquecer dos produtos, dos malabares, do dinheiro...
- Ganhar um livro é sempre bem-vindo. A literatura é maravilhosa, explicou, com sensibilidade, um vendedor de raquetes que dão choques em insetos.
Quase chegando ao fim da jornada literária, conheci Maria*. Carregava a pequena Vitória*, 1 ano recém-completado, e cobiçava alguns trocados num canteiro da Zona Norte da cidade. Ganhou um livro infantil e agradeceu. Avancei dois quarteirões e fiz o retorno. Então, a vi novamente. Ela lia para a menininha no colo. Espremi os olhos para tentar ver seu semblante pelo retrovisor. Acho que sorria.

* Os nomes foram trocados para preservar os personagens.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A DARWIN O QUE É DE DARWIN...

As ideias revolucionárias do naturalista inglês, que nasceu há 200 anos, são os pilares da biologia e da genética e estão presentes em muitas áreas da ciência moderna. O mistério é por que tanta gente ainda reluta em aceitar que o homem é o resultado da evolução Os 5 pilares do darwinismo

1 A evolução das espécies
O mundo não foi criado por ninguém, nem é imutável. Os organismos estão em um lento e constante processo de mutação
2 O ancestral comum
Cada grupo de organismos descendem de um ancestral comum. Todos os grupos, incluindo animais, plantas e microorganismos, remetem a uma única origem da vida na terra - a ameba original.
3 A multiplicação das espécies
As espécies tendem a se diferenciar, criando novas espécies. O isolamento geográfico de determinada população, por exemplo, resulta ao longo do tempo no surgimento de nova espécie.
4 O gradualismo
As populações se diferenciam gradualmente, de geração em geração, que surgiram por um "galho" da árvore da vida não mais pertençam a mesma espécie do "tronco" e de outros "galhos".
5 A seleção natural
Os seres vivos sofrem mutações genéticas e podem passa-las a seus descendentes. cada nova geração tem sua herança posta à prova pelas condições ambientais em que vivem

A atualidade da evolução

Fenômenos tão díspares quanto as superbactérias e a epidemia de obesidades têm sua natureza aclarada pelo darwinismo
AS SUPERBACTÉRIAS
Os antibióticos aceleram a seleção de bactérias, processo que beneficia as cepas mais resistentes ao remédio. variantes do Staphylococcus aureus resistem hoje à maioria dos antibióticos.
AS DIETAS
A evolução premiou com a sobrevivência em longos períodos de escassez de comida os grupos humanos com maior capacidade de estocar gordura. Resultado: com a relativa abundância de comida, as pessoas engordam mais facilmente.
O SUCESSO DA FAMÍLIA
Antepassados humanos mais dispostos à vida em família tiveram vantagem competitivas sobre os grupos menos gregários. A união familiar evoluiu para o clã e para a cidade estado, a primeira manifestação da vida civilizada.
VAMOS ÀS COMPRAS?
Na perspectiva evolucionista, a tendência ao consumo exagerado e exibicionista é herança ancestral das vantagens evolucionista de se mostrar mais poderoso.
O LEITE DE CADA DIA

A tolerância a lactose, que permitiu aos adultos digerir o leite, é uma mutação benéfica rara que surgiu aleatoriamente na espécie humana. Entre os povos criadores de animais leiteiros, ela se tornou uma vantagem evolutiva considerável e, com o tempo, a maioria dos indivíduos dessas sociedades a apresenta.
O darwinismo explica por que...
...soluçamos
Os nervos que controlam a respiração já no ancestral que originou mamíferos, peixes e anfíbios. Girinos quando respiram por brânquias, fecham a glote para evitar que a água entre nos pulmões. Sem brânquias e fora da água, o ser humano faz o contrário: abre a glote para permitir a passagem do ar. Quando nervos e músculos estão irritados, o corpo lembra do passado anfíbio. Puxa o ar e fecha a glote, provocando o soluço.
...roncamos
A fala é possível também porque desenvolvemos músculos que movimentam a língua, a boca, e controlam a rigidez da garganta. A estrutura flexível foi favorecida pela evolução, mas provoca um efeito colateral. Durante o sono, os músculos relaxam e dificultam a entrada de de ar, causando ronco e apenia.
...engasgamos
Em chimpanzés e quase todos os mamíferos, a laringe fica na parte superior da garganta. Isso permite a eles comer e respirar ao mesmo tempo sem risco de sufocar, mas limita a emissão de sons. A laringe do homem fica mais para baixo, facilitando a modulação dos sons e a fala. Em compensação, engasgamos mais que os outros mamíferos.
...temos cóccix

O cóccix, na base da coluna, é um indício que os ancestrais humanos tinham rabo. Como nem chimpanzés nem gorilas têm cauda, é provável que o rabo tenha desaparecido muito cedo, no ancestral comum entre homem e os grandes primatas.
...temos dentes de siso
Enquanto o crânio aumentou, a mandíbula diminuiu. Desprezados por todos executando-se os dentistas , que cobram para arranca-los, os dentes de siso datam da época em que os homens possuíam mandíbulas maiores.
...sofremos de apendicite
Em animais cuja a alimentação consiste de plantas, o apêndice é bem maior que o humano e auxilia na digestão. Indica que algum ancestral nosso era herbívoro . Para o homem, essa estrutura serve apenas para abrigar infecções.
...sentimos as dores do parto
Para abrigar o cérebro avantajado, o crânio do bebê é grande em relação ao corpo. Já o canal da bacia, Por onde o bebê passa durante o parto, não pode aumentar naquela mesma proporção, porque a posição ereta exige uma pélvis relativamente estreita. Um bebê com crânio grande tendo de passar por um canal pequeno, resulta num parto demorado e doloroso.
...sentimos arrepios
Em resposta ao medo, gatos, cães, e outros mamíferos oriçam o pelo, parecendo maiores diante do inimigo. A seleção natural removeu os pelos dos humanos, mas manteve o mecanismo que os deixa eriçados, causando o arrepio.
(Fonte: Revista Veja)