quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O "JEITINHO BRASILEIRO" CONTAGIA A EDUCAÇÃO

Muito já se escreveu sobre o jeitinho brasileiro. Stanislaw Ponte Preta, Millôr Fernandes, Jô Soares, Luis Fernando Veríssimo e até o nosso conhecido gramático Douglas Tufano. De jeitinho, qualquer brasileiro entende, infelizmente, muitas vezes se faz uso dele para se tirar proveito. Não gostaria de ver o nosso jeitinho tão difamado assim (porque o jeitinho brasileiro é muito especial e cativa qualquer estrangeiro), mas,... é isso que vemos em todas as esferas sociais e políticas.

Usando criatividade e esperteza o brasileiro, rico ou pobre, procura se “dar bem”. É só ligar a TV ou abrir um jornal que ele está lá. Na saúde, no trânsito, na segurança, na política e agora na escola. Estar na última, é o que mais me decepciona, porque faço parte dela.

Sempre procurei educar meus filhos e meus alunos partindo do princípio da ética e do respeito aos valores, única forma de formar cidadãos justos e honestos, mas ao longo de minha carreira profissional, como professora, percebo que o jeitinho acaba sendo uma solução para evitar a evasão e assim receber verbas públicas para projetos. Parece que usar do jeitinho passou a ser a melhor forma de preservar o que a escola ainda tem. Às vezes, sinto-me honesta demais, o que parece ser vergonhoso para em uma sociedade que se acostumou a burlar. Só não quero servir de chacota.

Já cheguei a me perguntar se a dedicação ao trabalho, o esforço em realizar perfeitamente uma tarefa, o respeito pelo outro, valerá a pena. Sempre que penso nisso lembro-me de Fernando Pessoa “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” é o que me leva para frente e me faz repensar a educação, porque sei que minha alma não é.

O jeitinho, infelizmente, está na escola. Muitos professores fazem uso dele no final do ano para aprovar alunos faltosos, desinteressados, que não realizaram o mínimo esforço para conseguir aprovação, igualando-os aos que passaram o ano inteiro dedicando-se para conseguir notas boas para passar. Que injustiça, não! Será que não estamos tratando da mesma forma os que se esforçam e os que se acomodam esperando o dia do “jeitinho” chegar?

Percebo que perdemos a autoridade quando permitimos nos acovardar diante de determinadas situações como, ameaças de alunos ou de pais de alunos quando se deixa de receber um trabalho que não foi entregue no dia marcado, ou quando se permite que façam uma prova que deixaram de fazer só porque não estavam preparados, eximindo-os da falta de responsabilidade. Dando a ideia de que “tudo pode acabar em pizza” depois de uma conversinha.

Como educadora, chamo a atenção dos colegas para esse deslize, que, para mim, é um ponto a menos na carreira do educador. Precisamos imprimir o selo dos valores nobres, da responsabilidade, da importância do estudo, da seriedade e do cumprimento dos deveres que a escola vem perdendo ao longo dos anos. Talvez, a única forma de se combater esse vírus que é “o jeitinho brasileiro”.

(O Jeitinho brasileiro chegou na escola. TAVARES, Aricleide)

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